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Foto do escritorEdna Froes

A escrita celeste e a feitura de um horóscopo diário

Atualizado: 28 de fev. de 2023




Estudar astrologia é aprender outro idioma.

Escrever astrologia é fazer tradução simultânea.


Está claro que a evolução da humanidade passa pela capacidade de comunicar ideias. E isso não é nenhuma novidade. O registro de eventos através de símbolos tem origens muito remotas: as mais antigas pinturas rupestres encontradas datam de 40.000 anos atrás.

No Egito, os hieróglifos já eram usados por volta do ano 3.500 a.C. Mesmo período em que os Sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, feita em argila.

De lá para cá, diversos tipos de suportes foram experimentados antes de chegarmos ao nosso conhecido papel: barro, cascas de árvores, rochas, couro de animais e até mesmo ossos.

O primeiro protótipo funcional da máquina de escrever foi criado em 1867 e seus aperfeiçoamentos foram tornando a escrita mais precisa e mais veloz.

Hoje, com o advento da internet e o crescimento da tecnologia, a escrita torna-se acessível a praticamente qualquer pessoa que queira experimentá-la.

No entanto, não basta que as ferramentas estejam à disposição. É preciso também que haja força de vontade e disciplina.

Escrever é difícil e exige treino. Os momentos de inspiração são raros e não se pode ficar à deriva, esperando que aconteçam.

Citando Jack London: “Não podemos ficar à espera da inspiração. Temos de ir procurá-la num bar”.

Obviamente existem muitos outros lugares onde se pode procurar inspiração, como por exemplo, a natureza, as pessoas à nossa volta, notícias de jornais e (por que não?) o céu.

Escrever sobre o que se conhece, além de encurtar o tempo, é um ótimo meio de garantir a qualidade de um texto.


E, para mim, traduzir o céu diariamente através da escrita de um horóscopo, além de desafiador, exige técnica, comprometimento e bom humor.

Nem sempre os Deuses-Planetas estarão afeitos a facilitar o trabalho do astrólogo. Há dias em que as tensões configuradas no céu, espelham dificuldades de escrita aqui na terra.

Porém em outros, e aqui trago uma impressão pessoal, a inspiração para a narrativa, desperta junto conosco ao acordar.

Esses são dias em que os textos são fluídos, cadentes e praticamente escorrem pelos dedos das mãos como se se contassem sozinhos. Para estes dias raros, de imaginação solta, basta uma caneta, um papel, uma porção de tempo, e o argumento se faz.

Para todos os outros, precisamos da Mariana.

Mariana de Oliveira Campos é professora do “Fundamento 14 - Escrita Celeste” da Saturnália – Escola de Astrologia, a única escola (de que tenho notícia) que possui um módulo de escrita em seu curso de astrologia.

Mariana, com toda generosidade, nos desafia e nos presenteia, em suas aulas, com estratégias de redação, fluidez e criatividade.

Pois alguns textos precisam ser pensados, prensados; necessitam métrica e rima, enquadramento e restrição. Precisam de limitação criativa, de arrasto.

Às vezes, escreve-se mesmo é na oposição, no antagônico. Como se o contrário é que permitisse a existência do devaneio, assim como as asas de um avião só podem mantê-lo em voo porque a resistência do próprio céu o sustenta.

As aulas de Escrita Celeste nos trazem técnica. E técnica é a única coisa que mantém o suporte para a coerência, clareza e compreensão do texto, nos dias em que decididamente a inspiração passa ao largo.


Aliás, foi através de um exercício proposto por ela, Mariana, que nasceu a página do Instagram: “Café & Estrelas” - a partir da ideia de usar textos de horóscopos de jornal e reescrevê-los, riscando com caneta marcadora as palavras supérfluas.

A referência, ela nos trouxe de outra página, também do instagram, chamada "hidden horoscope".

O grande desafio é escrever algo que faça sentido, usando palavras de outra pessoa, sem acrescentar nada, só excluir. Um desafio que, no mínimo, nos obriga a sair do nosso próprio repertório.

Some-se a isso o compromisso de manter a coerência com a efeméride do dia e vocês podem imaginar o tamanho da dificuldade.

Confesso que, às vezes, tenho que optar entre coerência e efeméride e, quando assim acontece, o faço confiante de que a força do oráculo fará o endereçamento e a distribuição necessária.


A escolha dos escritos de base se dá pelo pinçamento de textos, em sua maioria astrológicos, na internet. Quando de astrólogos, os que mais uso são do Oscar Quiroga, pelo simples fato de que se adequam melhor ao espaço da cartela e me desafiam um pouco mais, pois às vezes as palavras e os termos escolhidos por ele, requerem uma dose extra de criatividade. Não raro, o horóscopo final contradiz o seu sentido original.

Os textos, quando não astrológicos, seguem a seguinte ideia governante: “Qualquer texto pode virar conselho astrológico.”

Com base nessa afirmação, já usei textos de um blog de baterias automotivas, de receitas culinárias, de outros oráculos, de poetas, letras de músicas, contos, textos de amigos e até versículos bíblicos.

Uma coisa é certa: é preciso uma dose de ousadia para, nestes termos, se aventurar a fazer previsões diárias que façam sentido.


A propósito, sentido para quem?

Para mim mesma, em primeiro lugar. Porque é a minha história quem escreve comigo, quem me ajuda a escolher as palavras e a fazer os cortes necessários.

Em segundo lugar, o horóscopo deve fazer jus aos ensinamentos preciosos que recebi e às pessoas que me apresentaram o céu e me ensinaram a traduzi-lo em palavras. É preciso honrar aqueles que vieram antes e que se dispõem a deixar um pouco de si na expressão de cada aprendiz.

E em terceiro, é preciso compreender que existem múltiplos interlocutores, com histórias de vidas diversas e diferentes capacidades de compreensão. O texto que, para mim, está coberto de sentido, ao ser entregue, pode, dependendo de quem o lê, parecer incompleto ou mesmo incompreensível. Há que se ter consciência disso. E isso basta.

Basta porque ao tentar adequar o texto para a compreensão de um maior número de leitores, perde-se a singularidade, o encantamento, a autoria. E eu tenho para mim, que essa coisa que me faz única é a única coisa da qual não posso abrir mão.

A tradução do tempo através da escrita de um horóscopo diário, é também, a tradução do próprio tempo em mim.


Edna Froes (agosto-2022)

Uma saturnina que encara o tempo pela perspectiva da vida.

Astróloga, fotógrafa e escritora


P.s.:


Importante dizer também que, embora a própria escola Saturnália, quando dedicada a horóscopos, propõem um que verse sobre o céu do dia, deixando ao leitor a tarefa de completar o texto, fui incentivada a escolher o caminho que quisesse e foi o que fiz: escolhi o formato consagrado pelos jornais no século XX, aquele de pequenos textos a cada um dos doze signos solares. Inclusive, é o que verá, ao menos por um mês, a partir de amanhã dia 28/08, durante toda a Lunação de Virgem de 2022, nos perfis do instagram da Saturnália (@saturnalia_ ) e do Café & Estrelas (@cafeeestrelas )

A seguir, exemplos de horóscopos já publicados em meu perfil do Instagram.

Divirta-se!



















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