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Estrela Fixa Cetus

Atualizado: 19 de jan.

A Constelação de Cetus

Cetus, a baleia, ou Monstro Marinho, foi reconhecida pelo menos desde a época de Aratus (século 3 A.C.), como a mítica criatura enviada por Netuno (Poseidon) para devorar Andrômeda, mas foi transformada em pedra ao olhar para a cabeça da Medusa (Algol) nas mãos de Perseu. Cetus está localizada às margens do Rio Erídano, e o outro lado de seu corpo faz fronteira com a constelação de Peixes.

Em Astronomica, Manílio fala do drama do monstro marinho que surge para devorar Andrômeda:

“Já começara a erguer-se carregado o mar, e em longas correntes fugiam as ondas da massa do monstro que as impelia. Fendendo as ondas, a cabeça dele sobressai, vomitando o pélago; ressoa-lhe o mar em torno aos dentes, em sua própria goela nadando impetuoso; daí se levantam suas vastas espiras, formadas como que por imensos colares, encobrindo as suas costas o pélago inteiro. Retumba em toda parte o Fórcis, precipitando-se: temem-no até as montanhas e as pedras.

Desventurada virgem, ainda que ajudada por tão forte defensor tal como o teu naquele momento! Como o sopro da tua respiração fugiu para os ventos! Como todo o sangue deixou teu corpo, como visses tu mesma, do vão das pedras onde estavas, o teu destino, e visses nadando em tua direção o teu suplício, trazendo-lhe o pélago, ó presa tão pequena para o mar!

Nesse momento, batendo as asas Perseu e eleva em voo e do alto do céu se arroja contra o inimigo, cravando-lhe o ferro, já tinto que estava do sangue gorgôneo. Fórcis vem para diante dele e endireita sua cabeça para fora do abismo, revirando-a, e apoiando-se em suas tortuosas espiras, atira-se para o alto e se mostra, altiva, com todo o seu corpo. Mas, quando ela sobe, arrojando-se do abismo, na mesma proporção Perseu voa para trás, enganando-a no céu aberto, açoitando a face do monstro marinho enquanto este o ataca. Fórcis, porém, não se entrega ao homem, mas se enfurece em mordidas contra o ar, em vão seus dentes estalam, sem causar ferimento; expele o pélago contra o céu, mergulha Perseu em ondas de sangue e faz o mar subir gota a gota para os astros. A menina, causa da luta, observa o embate e, já esquecida de si, temeu, suspirando por tão generoso defensor, pendendo mais pelo espírito que pelo corpo. Enfim, a baleia se abaixou, tendo o corpo traspassado de golpes, cheia de água do mar, retornou mais uma vez à superfície das ondas e com seu vasto cadáver cobriu a imensidão do mar, terrível mesmo então e indigno de ser visto pelos olhos de uma virgem”.

[Manílio, Astronomica, Século I D.C., Livro 5, pags.347-349]

Cetus é a palavra Latina para a ordem Cetacea, que inclui baleias, golfinhos e botos. Deriva do Latim cetus, e do grego ketos, assim como as palavras cetáceo, cetene, cetil (substância alcoólica retirada da gordura de baleias, chamada álcool cetílico), e espermacete, produto de uma gordura retirada da cabeça da baleia cachalote (“sperm whale”). Uma baleia grande chega a pesar três toneladas.

“A palavra Indo-europeia sqalos (cf. Lat. squalus) é provavelmente cognata de qalos, como o Germânico khwalaz (comparar com Saxão Antigo hwal, Norueguês Antigo hvalr, Inglês Antigo hwæl, Neerlandês Médio wal, Alemão Antigo wal), possivelmente do original qalos, que significa peixe grande, que depois teve seu significado transformado em dialetos individuais (Ver s-Mobile) [Indo-European Language Association].

A palavra whale vem do Inglês Antigo hwael, que vem da raiz Indo-europeia kwal-o- “peixe grande”. Derivam dela: whale, narwhal, rorqual, (do Nórdico Antigo hvalr, e whale, do Germânico hwalaz), squalene (do Latim Novo Squalus, gênero de tubarões, do Latim squalus, um peixe marinho), esquálido (do Latim squales sujeira, squalus sujo, squalere, coberto de uma camada grossa ou escamosa)” [Pokorny (s)kwalos 958. Watkins].

“É provavelmente relacionado à palavra squall (1), um grito breve e forte, ou squall (2), uma ventania violenta súbita, que sopra forte por um breve período ” [Klein], e squeal, grito agudo.

“Eleva-se a baleia, que enrola o dorso escamoso, torcendo-o em círculos; ela vem ondulando com o ventre, tal como outrora, quando, vindo das ondas para a ruína da abandonada filha de Cefeu[1], repeliu o mar para além dos seus litorais”.

[Manílio, Astronomica, Século I D.C., Livro I, p.39].

Ao descrever as influências astrológicas, Manílio associa a constelação à produção de sal:

“Os nascidos sob o Ceto serão capazes, ainda, de acumular grandes salinas, de aquecer a água do mar, dele separando o amargor, o que acontece quando estendem um terreno firme, fixando-lhes as margens, e para aí chamam um canal d’água trazido do mar próximo; encerrando-o, impedem-lhe a saída: desse modo, essa área detém tais águas e, conforme vai sendo o líquido bebido pelo calor do sol, começa então a brilhar. Amontoa-se o pélago seco, e as cãs do mar estão cortadas para as mesas; assim, os nascidos sob o Ceto fazem enormes montes de espuma; quanto ao veneno do pélago, em razão do qual se perde a utilidade da água marinha, corrompida que é pelo sabor amargo, eles o fazem nutritivo sal, tornando-o salubre”.

[Manílio, Astronomica, Século I D.C., Livro 5, p.355].

A palavra Sal vem da raiz Indo-europeia sal. Derivativos: sal, souse¹ (carne em conserva), silt (areia fina, pântano de sal), salsa, sauce [molho], sausage [linguiça], salada, salami, salário, salino, e halo- (prefixo do Latim halos: eira, disco ao redor do Sol ou da Lua), halogênio (Grego hals + genes = nascido, do Grego halos, raiz hal-, sal, mar), halon (um halo carbono usado como agente de extintores de fogo) [Pokorny 1. sal- 878. Watkins]. Derivativos: Salzburg, Salamanca, Salamis, de salama (“ele estava a salvo ou livre”). “Levar com uma pitada de sal” (expressão em inglês, que significa aceitar um argumento ceticamente). “Pessoa sem sal” (expressão em Português, pessoa que não tem graça), e em seu sermão no Monte, Jesus referiu-se ao povo como “o sal da Terra“.

Aparentemente, a palavra pré-Indo-europeia Proto-Fino-Báltica para whale (baleia) era ‘hal‘, emprestada da língua germânica, que acabou no Inglês através de um processo longo e complicado como ‘whale’, do Germânico *hwalaz. O Finlandês é ‘kala‘ e em Húngaro, é ‘hal‘. Em grego, hal é sal.

O inalar e o exalar dramático (do Latim halare, “respirar”), de uma baleia quando chega à superfície, que sopra por seu respiradouro, lembra a palavra squall2, ” uma ventania violenta súbita, que sopra forte por um breve período”.

Manílio lembra de onde vem sausage (linguiça), sauce (molho), salami, ou souse (carne em conserva), em suas descrições astrológicas:

“Ele arrasta seus filhos para matanças no mar e para ferir o escamoso rebanho, filhos que se comprazem em prender o fundo do mar estendendo-lhe redes e estreitá-lo como se o agrilhoassem; eles encerrarão em prisões as focas, que se acreditarão sossegadas, aí, como em mar aberto, e as prenderão em grilhões, arrastarão os atuns, não precavidos do real tamanho do vão das malhas. Mas tê-los capturado não é o bastante: os corpos de animais lutam com os nós, pressentindo novos ataques, e acabam mortos pela lâmina; o mar, assim, se vê tinto do seu próprio sangue. Ademais, quando as presas estão por terra, em toda a extensão da praia, segunda matança se faz sobre a primeira: os peixes são cortados em pedaços, derivando-se variados proveitos da divisão dum só corpo. Uma parte é melhor se expelidos os seus sucos; outra, se retidos. Desta flui preciosa sânie, que expele a parte mais pura do sangue e que, misturando-se o sal, tempera o paladar; a outra parte, restos duma mistura em decomposição, junta num todo as suas formas, misturando-as em prejuízo umas das outras, e fornece aos alimentos um tempero de uso mais geral. Ou, quando a multidão de escamosos parou de se agitar, simílima ela mesma ao mar cerúleo, imóvel em seu grande número, uma mesma rede a apanha, cingindo-a: ela, assim, enche enormes talhas e tonéis de Baco, que então deitam volumes de misturas líquidas: ela flui, dissolvidas que lhes foram as entranhas, numa putrefação líquida.

[Manílio, Astronomica, Século I D.C., Livro 5, p.353-355].

Essa constelação é a francesa Baleine, a Italiana Balaena; o Almagest de 1515 e as Tábuas Alfonsinas a chamaram de Balaena, o astrônomo Fírmico, do século IV, a chamou de Belus, a Besta ou Monstro, e Ovídio a chamou de Belua Ponti (Monstro do Mar).

Há duas ordens de baleias. A subordem dos Cetacea, as baleias dentadas, são da família Delphinidae (golfinhos oceânicos) e têm sua constelação própria, Delphinus. Essa constelação, Cetus, parece referir-se às baleias de barbatana, também chamadas grandes baleias, ou Mysticeti, que têm cerdas ao invés de dentes, que usam para filtrar sua comida.

“Ballena são animais enormes, nomeadas por lançar e vaporizar água, pois movem vagas maiores que outros animais marinhos; em grego, ballein significa ‘lançar adiante’. O monstro marinho (cetus, plural cete) é chamado ketos, plural kete, isso é, por causa de sua vastidão. São tipos imensos de monstros marinhos (bellua), e seus corpos têm o tamanho de montanhas. Tal cetus engoliu Jonas; sua barriga era tão grande que lembrava o inferno, como disse o profeta (Jonas 2:3): “Ele me ouviu da barriga do inferno.”

(Etimologias de Isidoro de Sevilha, Século XVII D.C., p.260].

A estrela Fosforos gritou (para Faetonte) “… pare com essa direção selvagem, e não deixe que o Ketos Olímpico – a constelação de Cetus, o Monstro Marinho – seja sua tumba em sua barriga do céu …”

[Nonnus de Panopus, Dionysiaca 38. 90 ff].

As baleias produzem um óleo chamado blubber (em inglês), cujo significado inicial era ‘bolhas, espuma. Compare bleb, blob, e o verbo blubber – chorar copiosamente [Klein]. A maioria das lâmpadas na Europa e nas Américas eram feitas desse óleo, obtido de várias espécies de baleias, até serem substituídas pelo querosene após 1860.

Cetus é uma baleia localizada às margens do rio Erídano; as margens do Erídano é onde as irmãs de Faetonte, as Helíades (“filhas do Sol”), choraram copiosamente lágrimas de sal (blubbering salty tears) antes de serem transformadas em álamos (chamadas popularmente de “chorões”). Das lágrimas das Helíades surgiu o âmbar que flutuava pelo rio Erídano. As baleias produzem ambergris (âmbar cinzento). A palavra ‘âmbar‘ provavelmente deriva da palavra árabe anbar, que significa âmbar cinzento, substância extraída de cachalotes usada como base para produzir perfumes. Outra etimologia é sugerida por Eugenion Ragazzi (2000): “acredita-se que a palavra ‘âmbar’ deriva da palavra árabe ‘Haur Rumi‘ que significa ‘Álamo romano’: os seguintes termos foram corrompidos a partir dele: Haurum, Habrum, Hambrum, e finalmente Ambarum e Amber“. Em árabe, Rumi significa Roma, e haur parece ser a espécie chamada Populus alba.

“O Âmbar (sucinus), que os gregos chamam electron, tem a cor de cera dourada, e afirma-se ser a seiva (sucus) de árvores, por isso é chamada de ‘âmbar.’ Uma explicação advinda do mito o levou a ser chamado de electrum, pois diz a história que quando Faetonte foi morto pelo raio, suas irmãs, chorosas, foram transformadas em álamos, que exsudam âmbar (electrum) em lágrimas, ano após ano, no rio Erídano (que, acredita-se ser o Pó, na Itália); chama-se electrum porque muitos poetas diziam que o Sol era chamado de Elector (o resplandecente). Mas na verdade, o âmbar não é a seiva do álamo, mas sim do pinheiro, pois quando queimado, ele exala o cheiro de pinheirais”.

[Etimologias de Isidoro de Sevilha, Século XVII DC, p.323].[2]

Elector (“o resplandecente”) pode ser relacionado ao Latim halos, disco ao redor do Sol ou da Lua. Em Química, soluções de sais em água são chamados de eletrólitos, que, assim como os sais fundidos, conduzem eletricidade. O sal é um conservante e o âmbar conserva o corpo do inseto preso na gota resinosa de âmbar. Um sal é um composto iônico de cátions carregados positivamente e ânions carregados negativamente. Cátion vem do grego kation, ir para baixo kata-, + ienai, ‘ir’, ‘para baixo’. Ânion, do grego anienai, ir para cima: ana-, cima, + ienai, ‘ir’, ‘ion’). Um íon ou grupo de íons que têm carga positiva têm a característica de mover-se em direção ao negativo, realizando assim a eletrólise nos respectivos eletrodos.

Os gregos usavam a mesma palavra para “sal” e “mar”; als (que se tornou sal em Latim), alos, alas. Essa raiz sobreviveu em th-alas-as (Thalassa), que significa “mar”. A palavra isle (não associada à palavra “ilha”, em inglês) vem do Francês Antigo isle (em francês, ile), do Latim insula. Klein afirma “que é de origem incerta. Seguindo os antigos, alguns filólogos modernos derivam o Latim insula de in salo, “aquilo que está no mar”, de in, “dentro”, e o ablativo de salum, “mar aberto”, que é um cognato do Irlandês Médio sal (genitivo saile), “mar”. Comparar ao grego en-alos, en-alios, “no mar”, do grego en, “dentro”, e als, genitivo alos (masculino), “sal”; (feminino), “mar”. Compare ilhota, insular, isolado, península.

A insulina é um hormônio secretado pelas ilhotas de Langerhans no pâncreas. Certa lenda sobre baleias, que tem muitas variações, fala de marinheiros que confundiram uma baleia com uma ilhota. Ao irem à “terra” para fazer fogo e cozinhar sua comida, o calor penetrou a pele grossa da baleia, e ela mergulhou para resfriar o calor. O navio foi sugado e os marinheiros se afogaram.

Às margens dessa constelação houve uma constelação moderna, criada em 1800, Machina Electrica, em honra ao primeiro gerador elétrico. Composta de estrelas difusas, encontradas ao sul de Cetus, o Monstro Marinho [ao sul da barriga] entre Fornax, o forno, e Escultor (Sculptor). A constelação apareceu em alguns atlas de estrelas, mas nunca foi amplamente aceita e não é mais reconhecida pelos astrônomos.

“As Ilhas Elektrides (Âmbar) que ficam no Pados.” Pados é um outro nome do rio Pó, ou Erídano, mencionado por Strabo, em Geografia 5.1.9, são associadas às ilhas Kvarner, no Adriático, Croácia.

“O âmbar era muito procurado por seu perfume, pelo calor, propriedades elétricas, e capacidade de preservar a vida em sua resina (Plínio NH37). Martial sugeriu que os insetos preservados no âmbar são eternas joias.

O âmbar foi provavelmente comercializado do norte da Europa ao Adriático pelo rio Pó e pelo Ródano. Mas nenhum dos dois rios foi a fonte do âmbar na antiguidade. Ele veio do norte europeu, da Jutlândia na Dinamarca, e da costa do Báltico “.

[Frederick Ahl, Metaformations, p.189-190]

A mitologia nos conta que o âmbar nasceu das lágrimas vertidas pelas Helíades que flutuaram pelo Rio Erídano. Erídano foi o nome dado por geólogos a um rio que existia onde está o mar Báltico hoje. No pleistoceno, o Mar Báltico era a bacia fluvial de um rio chamado hoje de Erídano. As florestas terciárias do Báltico produzem o melhor âmbar do mundo e o mar Báltico contém 90% do âmbar mundial – lágrimas das Helíades.

“Erídano… engoliu um estrangeiro, Faetonte está em seu leito … ele traz a riqueza de suas árvores aos amigos que vivem próximo a ele enquanto ele carrega os presentes brilhantes de âmbar das Helíades”. Dionisíaca 22.90

Os nomes das deusas Electra 1 e Electra 2 (uma das sete Plêiades), tem a mesma raiz que a palavra “elétrico”, sabemos que a ilha de Electra ficava perto do Erídano, assim como a constelação Cetus:

“E rapidamente eles [os Argonautas] entraram na nave, e trabalharam seus remos sem cessar até alcançarem a ilha sagrada de Electra, a mais alta de todas, próxima ao rio Erídano” [Grimal]

A palavra Electra é traduzida do grego “a-lektron‘”, sem leito de casal.

A exalação que jorra de uma baleia cria uma fonte de vapor quente de ar e água, através da qual observadores, dependendo de sua posição em relação ao Sol, podem ver as cores do arco-íris no vapor acima da cabeça da baleia, criando um halo [da raiz Indo-europeia *sal, acima], uma imagem sagrada e mística. Essa constelação era intitulada por autores romanos Pristis, Pristix, e Pistrix, palavras associadas a “prisma”. Um prisma tem o mesmo efeito que uma gota d’água no ar quando os raios de luz se decompõem em raios nas cores do arco-íris. [Cetus não é o arco-íris em si; Electra (ver acima) é a mãe de Iris, o arco-íris].

Outro significado de Cetus.

*Qet– (significa buraco no solo para viver, espaço ou sala) na protolíngua IE. Adotou-se, após algumas mudanças no nome, ketos, em Grego.

© Anne Wright 2008.

História da constelação

de Star Names, 1889, Richard H. Allen

O vento do Sul traz seu inimigo

A besta Oceânica.

Aratus, Brown.

Cetus, a baleia ou Monstro Marinho, é a Baleine francesa, a Balaena italiana, e a Wallfisch alemã.

Ao menos desde a época de Aratus, essa constelação foi identificada com a criatura das fábulas enviada para devorar Andrômeda, mas virou pedra ao olhar para a cabeça da Medusa (Algol) nas mãos de Perseu. Adições verazes a essa história, vindas de Plínio e Solinus, são que os ossos do monstro foram trazidos a Roma por Escauro. O esqueleto media quarenta pés de comprimento e as vertebras, seis pés de circunferência; e de São Jerônimo, que escreveu tê-las visto em Tyre; e de Pausanias, que descreveu uma fonte próxima que ficou vermelha com o sangue do monstro. Mas a lenda na qual aparece Cetus parece ter sido comum no Eufrates bem antes de nossa era; e, chegando a Eurípides e Sófocles, apareceu em seus dramas, e também na literatura subsequente.

Quanto a seu título estelar os gregos geralmente seguiam Aratus e Erastóstenes em Ketos, mas também usaram Orphis, e Orphos, algumas espécies de cetáceos; e o equivalente Prestis; e Pristis, [palavra encontrada em textos modernos na Physetere que Rabelais usou] de prethein, soprar ou jorrar, o hábito comum do animal. A última palavra, transliterada de forma variada, era comum sobre a constelação em autores romanos, aparecendo como Pristis, Pristix, e Pistrix, qualificada com os adjetivos auster, Nereia, fera, Neptunia, aequorea, e squammigera. Cetus, no entanto, tem sido o título mais comum desde os dias de Vitrúvio, com variação de Cete nos astrônomos do Século XVII, embora a figura estelar não se pareça a qualquer baleia conhecida na zoologia.

Os Manuscritos Harleianos e de Leyden a pintam com uma cabeça de cachorro, orelhas, e pernas dianteiras, mas com um rabo longo e tridentado; o todo, talvez, seja modelado com base no baixo relevo de Perseu e Andrômeda no Museu de Nápoles. Portanto, ela é encontrada no Globo de Farnésio, e esse fato pode ter dado origem, ou se originado de um título antigo que La Lande citou: Canis Tritonis, seu próprio Cão do Mar. Porém o Hyginus de 1488 possui uma criatura parecida com um golfinho, com probóscida e dentes, imitada na edição de 1535 por Micílio; e Durer variou ainda mais a forma da cabeça e partes frontais.

Assim, nessa, assim como em todas as delineações, ela foi sempre uma criatura feroz marinha, mais tarde associada à história de Andrômeda, e inicialmente, talvez, com Tiamat, do Eufrates, da qual outras formas foram Draco, Hydra, e Serpens; de fato, alguns pensaram que nosso Draco fora inimigo de Andrômeda, por sua proximidade aos outros personagens lendários. Mas um significado alternativo da palavra ketos é Tunny (o cavalo-cavala da costa Americana e o Attacora thynnus da ictiologia, encontrado no Mediterrâneo com até com 500 quilos] e também Khelidonias, aplicado ao Peixe ao norte do Zodíaco, e não é improvável que essa última figura tenha substituído na história a Baleia tão consagrada.

Cetus às vezes é representada nadando no rio Erídano, embora geralmente esteja descansando nas margens, com as patas dianteiras na água; sua cabeça, diretamente sob Áries, marcava um pentágono irregular de estrelas, e seu corpo se estendia desde a curva do Erídano até aquela do Riacho da Urna. Ela ocupa um espaço de 50° de comprimento e 20° de largura, e, portanto, é uma das figuras celestes mais extensas; no entanto, ela não exibe estrelas maiores que a segunda magnitude, e apenas uma desse brilho.

{Página 162} Argelander enumera 98 estrelas na constelação, e Heis, 162.

O Almagest de 1515, e as Tábuas Alfonsinas a chamaram de Balaena, mas Firmicus disse Belus, a Besta ou Monstro, um nome mais apropriado que o nosso. Bayer a mencionou como Draco, e a desenhou assim, mas sem asas; ele também a citou como Leo, Monstrum marimim, Ursus marinus, Orphas, Orphus; e Grotius chamou-a Gibbus, e Corcunda, de escritores anônimos.

Os astrônomos árabes certamente conheciam a constelação grega e a chamavam de Al Ketus, de onde deve ter surgido Elketos, Elkaitos e Elkaitus; mas seus predecessores, que não ouviram falar da família real e seu inimigo, separaram essas estrelas em três asterismos diferentes. Aqueles na cabeça, a alpha (Menkar), gama (Kaffaljidhma), delta, lambda, mu, xi ¹e xi2, eram Al Kaff al Jidhmah, a Parte da Mão, a partir de uma semelhança imaginada a sua Hamsá, nossa Cassiopéia; eta, theta, tau, e upsilon, no corpo de nossa Cetus, foram Al Na’amat, as Avestruzes; e as quatro em linha reta na extensão de 3° do rabo, todas phi, eram Al Nitham, o colar.

A escola bíblica do Século XVII certamente viu aqui a Baleia que engoliu Jonas; e os comentadores desse grande poema astronômico, o Livro de Jó, disseram que ela tipificou o Leviatã, do qual Deus falou ao patriarca. Julius Schiller a imaginou “SS. Joaquim e Anna (avós de Jesus).

A Poltrona foi aplicada popularmente a ela a partir do arranjo de suas estrelas principais, onde as costas da poltrona se inclinam em direção a Órion.

Embora seja uma constelação antiga, Cetus não recebe interesse especial, exceto por possuir o polo sul da Via Láctea [na verdade entre Escultor (Sculptor) e Coma Berenices próximos, que contêm o Polo Norte Galáctico, o norte perpendicular à Via Láctea. O Polo Sul Galáctico fica no Escultor (Sculptor), e também por possuir a Estrela Maravilhosa, a variável Mira; e pelo fato de ser um ponto de condensação de nébulas diretamente opostas na esfera a Virgem, também notadas a esse respeito.

[Star Names: Their Lore and Meaning, Richard H. Allen, 1889.]

História da estrela: Menkar

(Em 2020, a aproximadamente 15 graus de Touro)

da p.162 de Star Names, Richard Hinckley Allen, 1889. [Cópia escaneada nesta webpage]

Alpha (α) de Cetus, Menkar é uma estrela laranja brilhante localizada na boca aberta da Baleia, ou Monstro Marinho.

Menkar das Tábuas Alfonsinas de 1521, Monkar do escolasta francês do Século XVI Scaliger, e às vezes chamada de Menkab, de Al Minhar (Minħar), o Nariz, inda é um nome popular, mas não é apropriado, pois ela marca a boca aberta do Monstro. É a estrela proeminente na parte a noroeste da constelação, e culmina em 21 de dezembro.

Al Kaff al Jidhmah, encontrada no globo celeste do Cardinal Borgia, é a designação dada pelo astrônomo tártaro do Século XV Ulug Beg, e por Al Tizini (Astrônomo árabe, primeira metade do Século XVI), a todas as estrelas na cabeça; mas listas modernas aplicam-na somente à gama (γ Kaffaljidhma).

No passado astrológico trazia perigos a partir de animais grandes, desgraças, má fortuna e doenças a aqueles nascidos sob sua influência.

Na China, a alpha (α Menkar,), gama (γ Kaffaljidhma), delta (δ), lambda (λ), nu (ν), ômega (ω), zeta (ζ Baton Kaitos)1, e zeta (ζ)2 eram Tseen Kwan, O Granário Circular do Paraíso.

[Star Names, Their Lore and Meaning, Richard Hinckley Allen, 1889].

Influências astrológicas da constelação Cetus

Lenda: Cetus representa o monstro marinho ou baleia que foi enviado por Netuno para devorar Andrômeda (ver Andrômeda). [Robson*, p.38.]

Influências: De acordo com Ptolomeu, essa constelação é como Saturno. Causa preguiça e ociosidade, mas confere uma natureza emocional e caridosa, com capacidade de comando, especialmente na guerra. Torna seus nativos amáveis, prudentes, felizes no mar e na terra, e ajuda a recuperar bens perdidos. [Robson*, p.38.]

Influências astrológicas da constelação de Cetus por Manílio:

“À esquerda, sob o ultimo grau dos Peixes, elevam-se as estrelas de Cetus, que segue Andrômeda no mar e depois no céu. Ele arrasta seus filhos para matanças no mar e para ferir o escamoso rebanho, filhos que se comprazem em prender o fundo do mar estendendo-lhe redes e estreitá-lo como se o agrilhoassem; eles encerrarão em prisões as focas, que se acreditarão sossegadas, aí, como em mar aberto, e as prenderão em grilhões, arrastarão os atuns, não precavidos do real tamanho do vão das malhas. Mas tê-los capturado não é o bastante: os corpos de animais lutam com os nós, pressentindo novos ataques, e acabam mortos pela lâmina; o mar, assim, se vê tinto do seu próprio sangue. Ademais, quando as presas estão por terra, em toda a extensão da praia, segunda matança se faz sobre a primeira: os peixes são cortados em pedaços, derivando-se variados proveitos da divisão dum só corpo. Uma parte é melhor se expelidos os seus sucos; outra, se retidos. Desta flui preciosa sânie, que expele a parte mais pura do sangue e que, misturando-se o sal, tempera o paladar; a outra parte, restos duma mistura em decomposição, junta num todo as suas formas, misturando-as em prejuízo umas das outras, e fornece aos alimentos um tempero de uso mais geral. Ou, quando a multidão de escamosos parou de se agitar, simílima ela mesma ao mar cerúleo, imóvel em seu grande número, uma mesma rede a apanha, cingindo-a: ela, assim, enche enormes talhas e tonéis de Baco, que então deitam volumes de misturas líquidas: ela flui, dissolvidas que lhes foram as entranhas, numa putrefação líquida”.

“Os nascidos sob o Ceto serão capazes, ainda, de acumular grandes salinas, de aquecer a água do mar, dele separando o amargor, o que acontece quando estendem um terreno firme, fixando-lhes as margens, e para aí chamam um canal d’água trazido do mar próximo; encerrando-o, impedem-lhe a saída: desse modo, essa área detém tais águas e, conforme vai sendo o líquido bebido pelo calor do sol, começa então a brilhar. Amontoa-se o pélago seco, e as cãs do mar estão cortadas para as mesas; assim, os nascidos sob o Ceto fazem enormes montes de espuma; quanto ao veneno do pélago, em razão do qual se perde a utilidade da água marinha, corrompida que é pelo sabor amargo, eles o fazem nutritivo sal, tornando-o salubre”. [Manílio, Astronomica, Século I D.C., Livro 5, p.353-355].

Influências astrológicas da estrela Menkar

De acordo com Ptolomeu, é da natureza de Saturno; para W.J. Simmonite1, de Marte; e para Alvidas, de Vênus e da Lua. Causa doenças, desgraças, ruína, ferimentos por animais, moléstias, e perda de fortunas. [Robson*, p.176.]

Essa estrela tem um caráter saturnino, e corresponde a obstáculos de vários tipos, preocupações e testes de resistência. Inimizades injustificadas, endurecimento ou dificuldades com elas. Em alguns casos de conjunção com Saturno, Marte ou Netuno, doenças na garganta, inflamação na laringe, e às vezes perigos por sufocamento foram observados. Esses nativos devem cuidar muito bem de si mesmos, se têm tendência a problemas pela garganta, e tomar medidas profiláticas. Devem evitar sobrecarregar a laringe e se tiverem problemas especialmente com ela, devem treinar metodicamente as cordas vocais etc. [Fixed Stars and Their Interpretation, Elsbeth Ebertin, 1928, p.37].

No ascendente: Legados e heranças atingidos por grandes males. [Robson*, p.176.]

No Meio do Céu: Desgraças, perigos no gado e grandes animais. [Robson*, p.176.]

Com o Sol: Grandes problemas, doenças, males da garganta, legados e heranças atingidos por grandes males, perda de dinheiro, perda de colheitas. [Robson*, p.176.]

Com a Lua: Ansiedade mental, ódio a vulgaridades, má vontade de mulheres, perigo de furto, doença causada ao nativo ou família, perda do cônjuge ou parente, brigas, perdas legais, legados e heranças afetados por grandes males. [Robson*, p.176.]

Com Mercúrio: Dificuldades para escrever, para pagar dívidas, saúde debilitada do cônjuge ou parente, destruição de colheitas. [Robson*, p.176.]

Com Vênus: Paixões fortes e incontroláveis, ciúmes, desarmonia doméstica e separação temporária, saúde debilitada do cônjuge. [Robson*, p.176.]

Com Marte: Associações malignas, imoral, violento, assassino, morte violenta. [Robson*, p.176.]

Com Júpiter: Enganoso, desonesto, vida errante, aprisionamento, banimento, ou sentença judicial. [Robson*, p.176.]

Com Saturno: Busca de si mesmo, egoísmo, causa infelicidade a outros, muitas doenças. [Robson*, p.177.]

Com Urano: Mente ativa, artística, científica e capacidade e interesses místicos, problemas com o sexo oposto, perdas através do fogo e de falsos amigos, boa ou má -fortuna se alternam, ferimentos severos de animais. [Robson*, p.177].

Com Netuno: Infância peculiar, perda ou separação dos pais no estrangeiro, pode perder a identidade e ser criado por estrangeiros em desonra, aprende sobre a parentagem tarde demais para que seja frutífero, bravura, capacidade de organização, altos cargos, talentos desperdiçados, muitas viagens, morte violenta, muitas vezes por assassinato. [Robson*, p.177.]

Referências:

[1] (N.t.) Andrômeda.

[2] (N.t.) O âmbar é uma resina fóssil produzida por plantas como proteção contra a ação das bactérias e contra o ataque de insetos. Em regiões temperadas é encontrado principalmente em bosques de pinheiros, mas em regiões tropicais, é formado por leguminosas. O âmbar tem o poder de adquirir uma carga elétrica pela fricção.


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